Crowdfunding

O crowdfunding tem sido usado principalmente para financiar projetos únicos no mercado. No entanto, recentemente, as empresas começaram a usá-lo para financiar produtos mais tradicionais, onde competem com outros vendedores de produtos similares.

Mas afinal o que é isto CROWDFUNDING?

O crowdfunding é uma forma de captação de recursos em que grupos de pessoas juntam dinheiro, normalmente (muito) pequenas contribuições individuais, para apoiar um objetivo específico. Geralmente é um processo realizado online.

Segundo a lei do financiamento colaborativo 102/2015, “O financiamento colaborativo é o tipo de financiamento de entidades, ou das suas atividades e projetos, através do seu registo em plataformas eletrónicas acessíveis através da Internet, a partir das quais procedem à angariação de parcelas de investimento provenientes de um ou vários investidores individuais.”

A mesma lei define os principais modelos de crowdfunding da seguinte maneira:
“São modalidades de financiamento colaborativo:

a) O financiamento colaborativo através de donativo, pelo qual a entidade financiada recebe um donativo, com ou sem a entrega de uma contrapartida não pecuniária;
b) O financiamento colaborativo com recompensa, pelo qual a entidade financiada fica obrigada à prestação do produto ou serviço financiado, em contrapartida pelo financiamento obtido;
c) O financiamento colaborativo de capital, pelo qual a entidade financiada remunera o financiamento obtido através de uma participação no respectivo capital social, distribuição de dividendos ou partilha de lucros;
d) O financiamento colaborativo por empréstimo, através do qual a entidade financiada remunera o financiamento obtido através do pagamento de juros fixados no momento da angariação.”

Quais os modelos de “financiamento” que podemos escolher?

Os apoiantes podem ser recompensados com um agradecimento (donativos), em géneros (recompensas), com juros (empréstimos) ou com ações (investimento).

Donativos: Normalmente, projetos sociais recorrem ao crowdfunding de donativos, sendo que também podem oferecer recompensas simbólicas.

Recompensas: Projetos culturais (ex. peças de teatro, gravações de CDs e filmes, edição de livros, exposições, etc) normalmente recorrem ao crowdfunding de recompensas. Isto porque não precisam de montantes muito elevados mas ao mesmo tempo não têm muitas fontes de financiamento: os apoios estatais podem ser escassos e nenhum banco ou investidor tradicional irá financiar estes projetos. Algumas fundações ou empresas podem ser mais generosos, mas podem ser de difícil acesso! Faz sentido recorrer ao próprio público que irá beneficiar da iniciativa e que, ao apoiar, poderá ganhar acesso à mesma mediante as recompensas. O promotor estará a efetuar assim uma pré-venda dos bilhetes do espetáculo, do seu livro ou do seu CD, conforme o caso. O modelo também é adequado para realizar pré-venda de outros produtos!

Empréstimo: Pode ser usado por pessoas que pretendem um crédito pessoal (exemplo) ou por pequenas e médias empresas.

Investimento: Normalmente é utilizada por empresas recentes (startups) com alto potencial de crescimento. Este modelo de crowdfunding pode ser uma alternativa ou um complemento ao investimento de um Business Angel.

O nosso foco neste artigo é baseado em recompensa crowdfunding, em que os investidores contam com alguns benefícios extras da empresa, como por exemplo futuros descontos de produtos. As campanhas de crowdfunding baseadas em recompensa são geralmente oferecidas em um destes dois modelos: O modelo “All-Or-Nothing” (AON) que envolve o estabelecimento de uma meta de captação de recursos e se esse objetivo não é alcançado, o dinheiro é devolvido aos investidores / financiadores ou o modelo “Keep-It-All” (KIA) onde é assumido e mantido todo o valor angariado.

Que plataformas podemos usar?

As duas maiores plataformas de crowdfunding são a Kickstarter e a Indiegogo. A Kickstarter segue um modelo AON e, desde a sua criação em 2008, foram realizadas 473.941 campanhas, entre as quais 176.497 foram financiadas com sucesso com o montante total captado de mais de US$ 4,5 bilhões.

A Indiegogo hospedou mais de 800.000 campanhas, entre as quais cerca de 9% obtiveram sucesso no seus financiamentos captando um montante total de aproximadamente US$ 1,6 bilhões. Os empresários na Indiegogo podem escolher entre o modelo KIA ou o modelo AON. Estas plataformas cobram taxas que podem variar de 3% a 9% do volume de recursos captados.

O que estas plataformas, nestes modelos, vieram acrescentar de novo?

O crowdfunding tem sido usado principalmente para financiar projetos únicos no mercado. No entanto, recentemente, as empresas começaram a usá-lo para financiar produtos mais tradicionais, onde competem com outros vendedores de produtos similares. As principais plataformas de crowdfunding, Kickstarter e Indiegogo, além da Amazon, lançaram vários projetos consistentes e com essa tendência.

Comparando estas duas plataformas, a Indiegogo é uma plataforma mais aberta e que pode ser usada por qualquer empresa para qualquer produto. A Indiegogo lançou vários projetos estratégicos em 2017–2018 que ajudaram várias empresas de financiamento coletivo a desenvolver seus negócios após uma campanha.

Por exemplo, ela introduziu o Indiegogo Marketplace/InDemand, onde as empresas vendem os seus produtos inicialmente financiados através do crowdfunding e competem com outras empresas que podem não ter necessariamente utilizado o crowdfunding para lançar seus produtos. Num espírito semelhante, tanto a Kickstarter quanto a Indiegogo uniram-se à Amazon para criar o projeto Amazon Launchpad, como facilitador para as startups lançarem, comercializarem e distribuírem os seus produtos para milhões de clientes da Amazon em todo o mundo.

O programa oferece vários serviços para empreendedores tais como páginas de produtos personalizadas e pacotes de marketing abrangentes. Isso ajuda as empresas a superarem muitos dos problemas associados ao início de novos negócios. Tanto o Marketplace quanto o Amazon Launchpad ajudam a criar um ambiente em que as empresas que usarem o crowdfunding, competem com empresas que não aplicaram este modelo de financiamento.

Entre outros exemplos, tem-se observado que os agricultores australianos parecem ter começado a usar o crowdfunding para melhorar as estruturas tradicionais de mercado transformando-as em duopólios, o que geralmente não o são.

Parece que começam a surgir várias características interessantes nas tendências que apresentamos anteriormente. Primeiro, as taxas de plataforma relacionadas aos projetos descritos acima são relativamente altas. Por exemplo, a Indiegogo cobra entre 10% e 15% sobre cada venda feita pelo Marketplace.

Em segundo lugar, o lançamento de uma campanha de crowdfunding antes das vendas tornou-se parte da estratégia, não apenas de empresas desconhecidas e iniciantes, mas também para as empresas já estabelecidas e respeitáveis. David Mandelbrot, CEO da Indiegogo, frisou o seguinte: “A tendência que estamos a assistir é que cada vez mais empresas usam a Indiegogo como uma maneira de se envolverem com o público mais cedo. No último ano, tivemos campanhas de empresas como Procter e Gamble, Honeywell e Bose.

São grandes empresas públicas, mas estão usando a Indiegogo para validar os produtos que saem de suas divisões e lançar esses produtos para uma audiência com a qual eles podem se envolver diretamente.”

Além disso, agora podemos ver casos em que produtos oferecidos por empresas que usavam o InDemand ou a Amazon Launchpad, e tinham experiência de crowdfunding, parecem ter uma qualidade superior em comparação com empresas que não usavam. Por exemplo, a empresa Prynt, fundada em 2014, levantou cerca de US$ 1,5 milhões de mais de 9000 apoiantes no Kickstarter, antes de lançar o Estojo The Prynt no Amazon Launchpad, tendo já clientes que compram estojos e pacotes de fotos suficientes para imprimir mais de 120.000 fotos instantâneas.

Antes de lançar a sua campanha de crowdfunding, os seus fundadores tinham um bom nível de confiança no alto potencial do seu produto. Depois de exibirem o produto no início de 2016, na Consumer Electronics Show, em Las Vegas, a Prynt fez algumas anotações notáveis. “… uma campanha [Kickstarter] exige muita antecipação e dedicação …“, disse Clément Perrot, CEO e cofundador da Prynt. Ele também disse que antes de se apertar o botão de inicialização de uma campanha, deve-se estar pronto para atualizações, postagens, fotos e imagens.

Pouco depois de uma campanha de crowdfunding, um autor independente que cobre inovações tecnológicas mencionou que: ”… existe toda uma gama de serviços que permitem solicitar impressões diretamente do seu smartphone com uma facilidade incrível e qualidade igualmente incrível. Existem até alguns aplicativos que memorizam os cliques obtidos numa foto sem nenhuma edição. No entanto, comparadas com a Prynt, essas inovações começam a parecer truques de novidade.”

Além disso, parece que na Amazon as classificações, os preços e o feedback dos clientes da Prynt são relativamente altos e mais altos, por exemplo, do que os da empresas que não usavam crowdfunding. “A participação no programa Amazon Launchpad foi maravilhoso – desde a equipa incrível a todos os recursos que eles disponibilizam facilmente para as startups “, afirmou Perrot em outra entrevista. “O suporte de marketing, em particular, é enorme para nos ajudar a manter fora dessas preocupações, e as nossas vendas foram excelentes.

É ótimo saber que temos uma equipa na Amazon focada para garantir que o nosso produto seja um sucesso!” Recentemente, uma empresa especializada em rankings de impressoras portáteis nomeou a Prynt como a melhor impressora na categoria iPhone: “… escolhemos destacar o Prynt Pocket apenas para iPhone devido ao seu design inovador e altamente portátil que o diferencia da maioria das outras impressoras de smartphones que existem por aí.”

Não podemos deixar de salientar também, o projeto Kickstarter Collection que está relacionado com o Amazon Launchpad, que apresenta produtos e projetos que tiveram experiências bem-sucedidas de crowdfunding com o Kickstarter e que já estão disponíveis para compra na Amazon.

“Trabalhar com o Kickstarter é uma ótima maneira de nós ouvirmos diretamente dos clientes quais os produtos com que eles se preocupam, pois eles realmente têm o poder de dar vida a esses produtos” disse Jim Adkins, vice-presidente da Amazon. A coleção de empresas no Kickstarter inclui a Piper, a Zivix, a MudWatt e a Prynt que mencionamos acima, entre muitos outros. A maioria dessas empresas estão muito bem cotadas no mercado. Observe-se, por exemplo, o produto premiado da Piper “The Piper Computer Kit.”

Fonte de informação: Journal of Risk and Financial Management